1 ano de Home Office em 3 microanálises
Reading Time: 4 minutes1- O empreendedor e o trabalho remoto
Hoje é 17 de março de dois mil e vinte e um. Faz exatamente um ano que transferi (definitivamente) minha mesa de trabalho à minha casa, entrei de vez na era do teletrabalho!
Antes da pandemia de Covid-19, meu trabalho na área de consultoria educacional especializada em STEAM e Robótica, estava 80% do tempo em aeroportos e rodovias. Eu passava horas e dias em viagens de negócios e prospecção por todo o território nacional. Perdi as contas de quantas vezes viajei para outro estado, milhares de quilômetros, para realizar uma única reunião de trabalho. Bom, isso foi antes…

Pelos cálculos do GOOGLE eu já dei 25 voltas em torno do globo terrestre, aproximadamente 1 milhão de quilômetros!!! Espantoso.
Apenas uma pequena parte desse ofício se desenrolava sentado na mesa de trabalho, 20% eu diria. Obviamente, tínhamos sim uma rotina semanal de inserção de dados e utilização de sistemas e apps mas, que não era tão intensa quanto hoje, em absoluto. Bom, isso foi drasticamente rompido, com a Covid-19, sem previsão clara de retorno ao que era antes.

2- O TRABALHO REMOTO EM EMPRESAS E OS DILEMAS ATUAIS NA CULTURA DE TRABALHO
Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em publicação da PEGN (Pequenas Empresas & Grandes Negócios) de setembro 2020, somos aproximadamente 12% de trabalhadores em Home Office no Brasil. Esses dados foram validados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e apontam para uma maioria de perfil cor branca 64,5% e 33,8% preta e parda, sendo que 58% do total de trabalhadores são mulheres. Estamos falando de 8,5 milhões de pessoas trabalhando de forma remota, a grande maioria equipadas desde sua própria casa para atuar em um teletrabalho emergencial que perdura para mais de 1 ano!
Esse cenário emergencial que levou muitos trabalhadores para um ambiente virtual e remoto não foi, em muitos casos, planejado e monitorado devidamente pelas empresas, de acordo com o texto “Após um ano de home office, colegas de trabalho estão ficando mal-educados”, publicado pela jornalista Nellie Bowles no NY TIMES, e republicada no Brasil pela revista exame (16/02/2021), na sessão CARREIRAS.
Com isso, podemos avaliar que a cultura de trabalho das empresas foi afetada, sendo permeada muitas vezes por comportamentos indesejados, como “manter as câmeras desligadas e se tornando desrespeitosos com os colegas”. É o que diz Gustavo Razzetti da Fearless Culture.
Muitas empresas iniciaram o processo de trabalho remoto em março de 2020 e, de lá pra cá, muitas horas de trabalho na tela e toda uma “comunicação” feita sob mediação de apps e recursos multimídias aos milhares. Talvez o que estamos vivenciando, justamente esteja aproximando e mesclando os comportamentos que já estavam evidenciados pela internet de forma geral, como as grosserias e preconceitos, entre outros comportamentos destrutivos. Talvez o próprio formato desse tipo de interação com as redes sociais já conhecidas do brasileiro, como facebook e twitter, possa encorajar em algumas pessoas essa confusão de tratar os colegas de trabalho como tratamos outras pessoas quaisquer nas redes. Complicado né, não?!
Entretanto cabe esclarecer que as empresas podem e devem tomar medidas de monitoramento e contenção. Por exemplo: “monitorar de perto chats com muitas pessoas, ouvir as reclamações, lembrar os funcionários de que eles estão no trabalho e não brincando com os amigos, e ter ciência de que a adoção de uma mão de obra virtual pode levar a novos problemas, como discriminação por idade.”
Segundo a S&P Global, 67% das empresas acredita que o teletrabalho veio pra ficar! Será permanente daqui em diante, não se trata de uma “modinha” ou apenas de uma situação emergencial. Com isso, podemos concluir que cuidar da cultura de trabalho e promover as adequações para que as equipes possam interagir de forma positiva e produtiva, torna-se algo essencial para a sobrevivência no século XXI.
3- O TRABALHO REMOTO DO PROFESSOR E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Deixei por último essa microanálise, por ser a mais complexa de recortar e comentar. Mas, quero apresentar um panorama suficiente para que possamos nos reconhecer também como agentes da educação e identificar a postura ética e generosa da grande maioria dos educadores, que foram desafiados ao extremo nesse último ano com o advento da pandemia de Covid-19.
Faço aqui minhas reverências e presto homenagem a cada um dos professores que esteve atuante durante esse período tão intenso e desafiador. Pois, não foi apenas uma questão de migrar da sala de aula para os ambientes virtuais, fez-se necessário investir em novas formas de cativar e envolver os estudantes em processos de ensino e aprendizagem.
Durante esse processo vimos a necessidade iminente de investimento em estrutura e equipamentos e recursos multimídias, bem como treinamento e formação continuada da equipe pedagógica. Ou seja, precisamos do incremento combinado entre tecnologias educacionais e educação tecnológica. Mas, nada disso se implementa sem o fator humano, sem profissionais capacitados. Por isso, faz-se necessário investimento em parcerias estratégicas, capazes de implementar projetos em larga escala, com materiais acessíveis e metodologia adequada.
Sabemos, hoje os desafios são inúmeros e vemos uma tendência de que se amontoem ainda mais com o passar dos dias. O retorno às aulas, dentro de uma perspectiva de “novo normal” previsto para 2021, não aconteceu em sua plenitude, devido aos múltiplos fatores decorrentes da pandemia.
Tivemos avanços no campo prático, em especial no que diz respeito as estratégias de ensino, mas ainda vejo uma grande etapa de discussão e redefinição no campo teórico (epistemológico) e estrutural. Estamos nos beirais de uma grande revolução e inovação na Educação ou ao passar do tempo veremos uma retomada gradual ao modelo de escolarização que tínhamos antes?
Temos um debate longo , por exemplo, sobre os investimentos de curto, médio e longo prazo à manutenção da Educação Pública e gratuita em contrapartida as possiblidades inauguradas e já capilarizada pelas iniciativa privada com sua mentalidade inovativa e empreendedora.
Por isso, gostaria de ler nos comentários, o que os leitores do Camadas Educacionais estão enxergando no horizonte próximo da Educação no Brasil. Conte pra nós como você tem lidado com esse desafio, seja como família ou educador?
Daniel Tiepo Fonseca é pedagogo e professor de história. Fundador da SER Consultoria Educacional, atua como colaborador da ZOOM education desde 2010.