Como e por que ensinar empreendedorismo nas escolas?
Reading Time: 3 minutesEmpreendedorismo como arte de resolver problemas
O ano de 2020 com certeza foi um marco em nossa geração pelos mais diversos motivos, um deles é sobre como encaramos o desafio de ensinar. O distanciamento social, o ensino a distância e a maior participação dos pais nesse ciclo abrem portas para refletirmos sobre como ensinamos, o que ensinamos e quando ensinamos. Esse “novo normal” nos provoca a refletir como preparar melhor as gerações futuras.
Os famosos “soft skills” são e serão essenciais num ambiente cada vez mais incerto e dinâmico. Ser resiliente, adaptável e proativo lhe ajudarão a navegar melhor tanto nas situações profissionais quanto pessoais que surgirão ao longo da sua vida. É interessante notar que essas são características muito fortes em empreendedores de sucesso dos mais diversos segmentos, afinal de contas construir grandes negócios a partir de ideias revolucionárias exige muito destas habilidades.
Senti isso na pele no começo da minha carreira profissional. Quando tive que escolher entre seguir uma carreira mais técnica e ligada à minha formação (estudei Engenharia da Computação) e uma carreira mais generalista, optei por ingressar como primeiro funcionário em uma startup. Num ambiente sem muitos processos, rotinas e com muito trabalho a fazer, todo dia tínhamos que tentar e iterar soluções para nossos desafios. Dava certo? Muitas vezes sim, muitas vezes não. Bom senso, intuição e persistência nos ajudaram a chegar lá, mas minha certeza é que com o auxílio de ferramentas e metodologias avançaríamos mais rápido e com menos esforço.
Muito bem, agora você pode estar se questionando se é possível ensinar alguém a ser empreendedor ou se essas pessoas já nascem com essa obstinação interna de construir algo, de revolucionar o status quo. Na minha opinião, diria que não existem fórmulas mágicas para criar novos Jeff Bezos, Jack Ma, Elon Musk e Mark Zuckerberg, contudo existem maneiras de apresentar conceitos e criar situações que ajudem jovens, na escola ou na faculdade, a começarem desenvolver essas habilidades antes de chegarem ao mercado de trabalho.
Minha experiência com Empreendedorismo em sala de aula
Nos últimos anos, tive o privilégio de participar como professor voluntário de uma disciplina optativa sobre Empreendedorismo que é oferecida em conjunto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e a Fundação Getúlio Vargas. O objetivo do curso era estimular futuros engenheiros e administradores a criarem negócios tecnológicos usando como base uma metodologia ensinada no MBA da prestigiada Stanford University chamada Startup Garage, onde nasceram grandes startups brasileiras como QuintoAndar, DogHero e Revelo.
Combinando conceitos de Lean Startup e User-centered Design, provocávamos os alunos a acharem problemas grandes e testarem diferentes soluções para tais. Esse tipo de matéria é bem diferente do que eles estavam habituados, possui muito menos teoria que o usual e exige muito mais mão na massa, trabalho em grupo e dedicação extra sala para executar um projeto de negócio idealizada do zero.
Em 4 meses, com aulas semanais de 4h, eles precisavam:
- Identificar um problema e suas nuances
- Achar soluções para resolver esse problema
- Entender como os usuários se comportam e percebiam cada solução proposta
- Construir um modelo de negócio que viabilizasse essa solução
- Fazer um pitch para investidores reais
Aprendizado com a experiência
Mais importante do que o resultado final, uma boa ideia de negócio ou um protótipo bem executado, para mim o mais valioso dessa matéria era poder colocar esses futuros profissionais em situações que os ajudassem a desenvolver uma abordagem mais empreendedora para os desafios da vida deles.
Identificar problemas, criar soluções efetivas e validadas pelos os usuários, entender a viabilidade econômica de um projeto proposto e convencer outras pessoas a “comprarem” sua ideia são os desafios que precisamos resolver diariamente na nossa sociedade, seja numa ONG ou numa empresa privada. Mas como preparar nossos jovens para que eles tenham ferramentas e experiências prévias é o que está faltando na nossa estrutura educacional atual (seja ela do nível superior ou do nível médio).
Desde de 2019, o Empreendedorismo é um dos eixos estruturantes dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio. O desafio agora é como traduzir isso em aulas e atividades para os alunos. Espero que esse texto e as referências deixadas aqui sirvam de inspiração.
Vamos mudar o futuro através do empreendedorismo!
Agradecimentos
Queria encerrar esse texto agradecendo ao Lucas Mendes por ter me convidado a embarcar nesse projeto e ensinado sobre metodologia usada em Stanford, e aos professores André Fleury (Poli-USP) e Adriana Ventura (FGV) por me permitirem vivenciar essa experiência de sala de aula tão enriquecedora e prazerosa.
Referências
- Startup Garage
- Lean Startup
- User-centered Design
- Itinerários formativos do Novo Ensino Médio
- Stanford Mafia