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Não é ensino híbrido: Problemas ao dar aula simultânea para alunos online e na sala

abril 24, 2021 5 min read

Não é ensino híbrido: Problemas ao dar aula simultânea para alunos online e na sala

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A pandemia da covid-19 ficará marcada na história como um dos piores eventos vividos por toda uma geração. No Brasil, a situação da Saúde é desesperadora, no dia 23/03 batemos o recorde de mortes registrada em 24h, com mais de 3 mil pessoas perdendo sua vida para o vírus, equivalente à quantidade de alunos de uma escola de grande porte.

Atingimos no dia 24/03 os 300 mil mortos registrados (sem contar a subnotificação de casos). A título de comparação, é como se em praticamente 1 ano de pandemia, todos os professores da cidade de São Paulo (são cerca de 150 mil contando as redes estadual, municipal e privadas) morressem e também todos os substitutos contratados para os seus postos. Importante reforçar os números para não esquecermos que a situação é grave.

Na Educação, a situação não é melhor, começamos mais um semestre letivo cheio de incertezas. Os governos, de maneira geral, foram incapazes de garantir as condições mínimas para o ensino remoto, deixando alunos e professores sem acesso à internet. A volta às aulas com segurança nunca foi levada como prioridade frente à abertura do comércio e dos shoppings centers.

O retorno às atividades presenciais aconteceu em meio ao aumento de casos, sem a escuta para as reivindicações dos educadores e sem nenhuma garantia de que os protocolos de segurança eram suficientes. O argumento da perda pedagógica com o ensino remoto é válido, bem como da dificuldade dos pais em trabalhar com as crianças mais novas em casa.

Porém, o modelo semipresencial (que não pode ser chamado de Ensino Híbrido) adotado por muitas escolas, com parte da turma presente e parte online assistindo à mesma aula, pode ser pior do que o ensino remoto em termos de aprendizagem. Neste texto, o objetivo é refletir sobre este modelo e reforçar conceitos sobre o Ensino Híbrido.

O modelo semipresencial adotado por muitas escolas

O modelo semipresencial adotado por muitas escolas (não encontrei uma pesquisa que mapeasse os modelos utilizados no retorno para saber se são a maioria) consiste, basicamente, em dar a aula presencial para um terço da turma, enquanto os outros 2 terços de estudantes acompanham a mesma atividade online. A cada dia há o revezamento dos alunos que acompanham presencialmente.

O argumento utilizado para as escolas ao adotar este modelo, pelo que conversei com alguns colegas, foi de evitar criar um desnível na aprendizagem entre os alunos na sala de aula e aqueles que acompanham online. Porém, a turma corre o risco de ficar “nivelada por baixo”, visto que pode não ser a melhor estratégia nem para os estudantes presentes, nem para os que estão em casa.

O primeiro ponto é sobre a disponibilidade de equipamentos e internet para que a transmissão da aula funcione de maneira adequada. Além do contexto da falta de acesso à internet de qualidade das famílias e dos estudantes já bastante discutido, agora há a situação das escolas em relação à capacidade da internet para transmitir as aulas de todas as turmas simultaneamente.

Também, são necessárias câmeras e microfones melhores do que os do celular ou notebook, visto que a captação audiovisual em um ambiente grande é diferente. Caso estes equipamentos não estejam disponíveis, o professor perderá a possibilidade de se locomover pela sala, por exemplo. Há casos em que o educador faz as explicações para os estudantes em sala, para depois repetir tudo no computador para aqueles online, cada grupo, na prática, fica com metade do tempo da aula.

Enquanto a aula for explicativa, como uma palestra, talvez a questão tecnológica seja o maior problema. Porém, quando a participação dos alunos é importante, seja para tirar dúvidas ou fazer uma atividade prática, é fácil perceber que as necessidades e a forma de auxiliar os alunos são diferentes se estiverem na sala de aula ou em casa pelo computador. É como fazer a gestão de duas salas ao mesmo tempo.

Os educadores acostumados ao ensino presencial tiveram que se virar (quase sempre sem formação) para aprender o ensino remoto. Agora, precisam se reinventar em um modelo criado exclusivamente neste período emergencial, para o qual muitos dos conhecimentos passados não se aplicam da mesma maneira. Um dos caminhos para melhorar esta situação é a adoção da metodologia de Ensino Híbrido.

Por que esse modelo não é Ensino Híbrido?

O ensino remoto emergencial não pode ser chamado de educação à distância por não ter sido planejado para acontecer online, já que professores e alunos não optaram pelo modelo remoto, não possuem experiência prévia e, assim, é difícil usufruir de metodologias e ferramentas específicas para melhorar a aprendizagem na educação à distância.

Da mesma maneira, o modelo semipresencial descrito não se enquadra na metodologia de ensino híbrido, visto que não usufrui do potencial do modelo presencial, nem do modelo online. A aplicação do ensino híbrido acontece quando planeja-se o processo pedagógico para o obter o que há de melhor na mediação do professor e na mediação tecnológica. Claramente, não é o caso.

Quiz - Qual o seu perfil de professor

O modelo híbrido é uma metodologia ativa que coloca o estudante no centro do processo pedagógico, desenvolvendo sua autonomia e explicitando a sua responsabilidade pelo próprio aprendizado. Assim, permite ao educador uma maior possibilidade de personalização do ensino, agindo de acordo com as necessidades de cada educando, suprindo lacunas geradas pelo ano letivo de 2020 totalmente no ensino remoto emergencial.

No meu texto “Perspectivas do ensino híbrido nas escolas em 2021”, apontei alguns obstáculos para a sua implantação: formação dos professores; sobrecarga de trabalho; acesso à internet e dispositivos; motivação dos estudantes.

Aparentemente, o modelo semipresencial adotado não resolve nenhum destes problemas, pois é algo novo para educadores, que estão trabalhando mais para dar conta das tarefas, ainda depende dos alunos possuírem dispositivos, além de tornar mais difícil conseguir engajamento.

Ao que tudo indica, as dificuldades são semelhantes, porém a aprendizagem parece ser menos eficiente. Por que não adotar o ensino híbrido de verdade, aproveitando melhor a mediação tecnológica e o momento em sala de aula?

Alternativas possíveis

Atualmente, a maioria dos estados e municípios proibiram as aulas presenciais devido ao agravamento da pandemia. Porém, em algum momento, voltaremos a discutir o retorno e podemos começar a planejar um novo modelo a partir de agora. Vou listar algumas possibilidades, mas é essencial que o corpo docente tenha tempo para se reunir e discutir quais as melhores soluções para o seu contexto.

A primeira mudança sugerida é que a atividade em sala de aula seja, de maneira geral, apenas para os alunos presentes, enquanto outras atividades remotas (online ou em papel, dependendo do acesso à internet dos estudantes) sejam preparados para aqueles que assistem às aulas de casa.

Assim, pode-se planejar uma atividade que usufrua da mediação do professor e outra para aproveitar a mediação tecnológica. Uma videoaula pode ter a mesma eficiência ao transmitir um conteúdo conceitual do que a fala presencial do professor, assim como fazer testes em casa não é tão diferente de fazê-los na sala. Por outro lado, a mediação do professor é insubstituível para tirar dúvidas ou orientar projetos.

Atividades que incentivem os alunos a atuar de maneira autônoma são muito bem vindas, uma ótima forma de desenvolver esta autonomia e também a participação no processo pedagógico, tornando-se responsável pelo próprio aprendizado. Por exemplo, os alunos que estão na escola podem auxiliar no planejamento e preparação de materiais para o ensino remoto.

Pode-se pensar em designar professores diferentes para planejar e realizar as atividades presenciais e as remotas, de acordo com o perfil, interesse, aptidão tecnológica ou até mesmo para evitar a exposição de educadores pertencentes ao grupo de risco da covid-19, podendo ficar responsáveis pelas atividades online e trabalhar de suas casas.

Se houverem as condições tecnológicas necessárias, em alguns momentos é possível juntar os alunos presentes e aqueles online na mesma atividade, desde que a intenção seja promover a interação entre os grupos, trazendo benefício ao processo pedagógico, não dificultando a aprendizagem.

Lembrando que o contexto de cada escola é determinante para definir essas estratégias, pode ser que as condições existentes indiquem que a melhor opção é o modelo semipresencial adotado. Porém, na maioria dos casos, este modelo é apenas uma adaptação do modelo tradicional de sala de aula para atender à emergência da pandemia, prejudicando o aprendizado.

Deixe um comentário contando como foi o retorno às aulas presenciais na sua escola? Estão repensando o modelo para o futuro? Quais foram os aspectos positivos e negativos?

Conte também o que achou do texto. Críticas, elogios e sugestões são sempre bem-vindos.

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One Comment
  1. Luciana

    Sou professora da Rede Pública do Rio Grande do Sul. E gostaria de saber até que ponto somos obrigados a realizar as aulas presenciais e online simultaneamente. Tem algum documento legal para isso?

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