Por que aprender fazendo é tão-mais legal?
Reading Time: 4 minutesVamos imaginar, por um momento, como nossos ancestrais aprendiam? Sim, isso mesmo! – até porque brincar e aprender foram práticas constantes ao longo da nossa história humana.
Não há distâncias que possam impedir nossa sina em aprender, seja brincando ou experimentando. Parte dessa reflexão provém dos estudos do historiador Johan Huizinga (1872-1945) com sua tese Homo Ludens, sobre o jogo como elemento primordial da cultura humana.
Veja que ainda não estamos falando acerca de estratégias de planejamento e condução de aulas. Estamos apenas tentando captar a essência de como aprendemos melhor? Desde muito pequenos, por exemplo, podemos aprender brincando?!
Será que, quando colocamos as mãos na massa (Hands On), hábito e habilidade que aparentemente sempre estiveram presente no nosso cotidiano civilizatório, aprendemos mais e melhor?
Para acrescentar outros “ingredientes” a nossa reflexão sobre o aprender fazendo, quero contar uma breve história, intitulada:
O cocar do professor
Em 2013, estive na aldeia Kayapó Turidjan, na região de Ourilândia do Norte (PA), como convidado do Cacique Piatã, para passar um dia com eles em convivência e intercâmbio. Aproveitei e fiz uma investigação antropológica objetiva, nesse dia, sobre como os jovens aprendiam comportamentos típicos de sua cultura, por exemplo caçar, pintar, coletar frutos e insumos da floresta, etc.

Descobri o óbvio da boca do Txai-professor Aruãn:
“eles aprendem brincando!”
Segundo Aruãn, “… as crianças aprendem a usar o arco flecha, primeiro construindo o seu próprio para brincar e na sequência experimentar com objetivo de caça, sente necessidade de aprimorar, e por aí vai. A mesma coisa para pescar ou coletar frutos que estão mais altos nas árvores. As pinturas, por exemplo, exigem um conhecimento que é passado de geração em geração, portanto o compartilhamento entre nós é diário e muito intenso. Ensinamos e aprendemos de muitas maneiras diferentes, mas sempre mostrando aos jovens, dando exemplos práticos. Crianças aprendem muito convivendo com seus parentes mais próximos. Alguns jovens querem permanecer nas aldeias, outros querem ir para a cidade. Alguns da nossa etnia frequentam as escolas tradicionais nas cidades e, muitas vezes, retornam para as suas famílias gerando um intercâmbio importante para todos nós.”
Aprender brincando e, portanto, ‘fazendo’ é algo que está presente na nossa essência, aprender com as mãos, com o corpo envolvido por completo na atividade, com as emoções, a memória, a atenção, etc. Mas, observem que é no convívio com a nossa cultura que aprimoramos nosso conhecimento e nosso Ser (coletiva e individualmente). – Imaginem como aprendemos a tocar um instrumento ou andar de bicicleta, desenhar, montar LEGO, programar usando Scratch, etc…
Essa experiência na aldeia Kayapó Turidjan (PA) me transformou. Todas as vivências práticas que tive em um único dia me marcaram, minha forma de retribuir foi levando a mensagem que aprendi lá, mensagem dos povos originários, de que conhecimento e tecnologia podem e devem ser desenvolvidos na Natureza e para a Natureza (Ecologia). A autoridade para representar essa mensagem me foi presenteada em forma de cocar. O cocar do professor! Apesar de não ter feito o meu próprio cocar, fiz por merecer, como foi dito na ocasião.

Essa história promoveu ainda mais conexão com meu propósito pessoal como educador.
Ao retornar para São Paulo, me deparei com uma formação técnica, que fez muito mais sentido após minha vivência anterior, com destaque para os 4 pilares da Educação, descritos por Jacques Delors, publicados em relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI – “Educação: um tesouro a descobrir” 1999 (UNESCO). Sendo eles, Aprender a Conhecer (adquirir instrumentos de compreensão); Aprender a Fazer (para poder agir sobre o meio em que se vive); Aprender a Conviver (cooperar com os outros em todas as atividades humanas); e, Aprender a Ser (conceito principal que integra todos os anteriores).

Na ZOOM education colocamos em prática todos esses conceitos. Desde que iniciei minha jornada profissional em 2010, tenho visto muitos avanços e amadurecimentos em relação a convergência de diferentes autores e ideias educacionais, tanto para potencializar a experiência do educando em aprender fazendo, como às aulas de Educação Tecnológica, ministradas por educadores engajados, com suas estratégias e metodologias ativas e conexão direta com os torneios e olimpíadas escolares.
Jonh Dewey (1859-1952) e Paulo Freire (1921-1997), por exemplo, são sólidos referenciais teóricos em nossos estudos e aprofundamentos.
“Os estudos de John Dewey (1959), pautados pelo aprender fazendo (learning by doing) em experiências com potencial educacional, convergem com as ideias de Paulo Freire (1996), em que as experiências de aprendizagem devem despertar a curiosidade do aluno, permitindo que, ao pensar o concreto, conscientize-se da realidade, possa questioná-la e, assim, a construção de conhecimentos possa ser realmente transformadora.” Bacich, (2017).
Incorporamos cada vez mais componentes do Movimento Maker, tendo em vista que estamos relacionados às pessoas que ‘fazem coisas’, criam soluções inovadoras, modificam coisas, consertam, fazem engenharia reversa, desenvolvem e executam tarefas complexas e buscam sempre compreender como e porquê as coisas funcionam! Uma prática muito difundida nos EUA, conhecida como Do it yorself (DIY) ou “faça você mesmo”.
As escolas sabem que essa pode ser uma estratégia interessante para engajar seus estudantes em projetos multidisciplinares e com uma abordagem STEAM. Esse trabalho de implementação e gestão da Cultura Maker é minha especialidade, atualmente. Para nós da ZOOM education, a proposta maker proporciona a construção de relações interpessoais, o trabalho colaborativo, a observação refinada e a reflexão sobre o que está sendo feito e aprendido.
Aprender brincando e aprender fazendo são fundamentos para a Educação! O ensino e a aprendizagem não podem ser pautado apenas por ‘formas’ de absorção do conhecimento. Precisamos estimular também a reflexão crítica e autonomia dos estudantes para um Aprender a Agir! Agir no mundo com ética, inovação e competência.
Somos maker com propósito!
Espero ter contribuído com essa reflexão tão necessária para todos nós educadores do século XXI.
Obs: os nomes Piatã e Aruãn substituíram os nomes originais, para preservar a identidade, dos dois líderes Kayapó.
Esse artigo foi escrito por Daniel Tiepo, pedagogo e professor de história. Especialista da ZOOM education.